O professor Ricardo Antunes em seu livro “Sentidos do Trabalho” nos trás importantes reflexões sobre as mutações em curso no mundo operário nos dias atuais.

Segundo ele precisamos fazer uma análise, além das aparências de como essa situação tem se apresentado, ele lembra que o capital tenta nos mostrar um sentido para o trabalho completamente diferente do sentido atribuído pela humanidade.

A palavra Trabalho etmologicamente surge do latim tripalium ou tripalus, uma ferramenta de três pernas que imobilizava cavalos e bois para serem ferrados. Curiosamente era também o nome de um instrumento de tortura usado contra escravos e presos, que originou o verbo tripaliare cujo primeiro significado era “torturar”.

No antigo testamento da Bíblia, no livro de Gênesis, o trabalho foi atribuído como uma forma de castigo a Adão e a Eva, por terem pecado. Agora, eles teriam que “comer do suor do seu rosto”, dar a entender que isso não acontecia antes e agora irá ser uma aflição.

Gênesis 3: 18“A terra produzirá espinhos e ervas daninhas, e tu terás de comer das plantas do campo. 19Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes ao solo, pois da terra foste formado; porque tu és pó e ao pó da terra retornarás!” 

Já o novo testamento trás uma concepção completamente diferente do trabalho, o apresenta como bênção, o que foi destacado tanto por Lutero quanto por Calvino, que entenderam que o trabalho nos é dado por Deus, como uma vocação a ser realizada, e assim se torna benção em nossas vidas.

Nesse sentido, Max Weber, expressou que essa nova ideologia do Trabalho arou terreno para o sucesso do capitalismo, uma vez que o lucro que era antes visto pela Igreja católica era considerado avareza, agora com Lutero passa a ser entendido como uma bênção de Deus.

Fatores e situações relacionados ao trabalho, ao momento histórico, social ou econômico interferem diretamente nessa concepção, de acordo com o período histórico em que vivemos.

Atualmente vivemos uma epécie de “Confluência Perversa”, termo usado pela professora Dagnino(2004) para designar o encontro entre a democracia e logo a seguir a instituição neoliberal, com início no governo Collor, onde acontece a retirada de direitos, a redução do Bem Estar Social, a coalizão entre Organizações Sociais e Organizações Não Governamentais e o Estado com o intuito de o Estado omitir-se da sua real função de amparar o cidadão e promover direitos.

Nesse cenário o que vemos é a política de trabalho também perversa, redução de concursos públicos, retirada de direitos trabalhistas básicos como o valor da hora extra e maior exploração do trabalhador, tudo isso tem deixado os trabalhadores frustrados, muitos tem perdido o sentido do trabalho como mecanismo de transformação social e satisfação pessoal, retomando a velha concepção do trabalho como um castigo, um tripallium, uma aflição.

Todas essas ocorrências trazem reflexões importantes para que a classe trabalhadora repense suas formas de organização e lutas por direitos, repense sua participação política, que permeiem ainda que timidamente os parlamentos uma vez que sabemos que processos eleitorais passam por desenvolver concepções enviesadas pelo capital em muitos eleitores, todavia é necessário construir novas formas de organização e resistência para que novas perspectivas venham a ser moldadas no seio da classe trabalhadora e os sentidos da vida, os sentidos do trabalho possam florescer como esperança, transformação e não como tortura e castigo.

Por Ana Léa Coêlho- Enfermeira do Trabalho, Pós-graduada em Educação em saúde pela escola Nacional de Saúde Pública, especialista em Saúde da Família e Gestão e Saúde pela Universidade Federal do Maranhão e Acadêmica de Ciência Política pelo Centro Universitário Internacional.