Nos últimos dias no Brasil a presença de militantes e movimentos sociais tanto ligados à esquerda quanto à direita tem realizado mobilizações sociais de ampla repercussão.
Para o professor de filosofia e mestrando em filosofia política da Universidade Estadual do Rio de Janeiro-UERJ, Pedro Ribeiro, em artigo publicado hoje, 22 de junho de 2020, no site Gazeta do Povo, a polarização radical entre direita e esquerda nascem da dura crise de representatividade, pela qual passa a democracia brasileira.
A aplicação dos termos Direita e Esquerda foi usado inicialmente em alusão à postura política de dois grupos políticos na França, no século XVIII, os Girondinos, que sentavam-se à Direita do Parlamento Francês, defendiam os grandes proprietários de terra, grandes comerciantes e senhores feudais, eram liderados por por Jacques Pierre Brissot, já os Jacobinos, que sentavam-se à Esquerda do Parlamento, defendiam os interesses e direitos dos trabalhadores, artesãos, pobres e miseráveis, que eram maioria absoluta na França, esse grupo era liderado por Robespierre. Este grupo era defensor da República.
Desse modo os termos Direita e Esquerda foram se consagrando assim na política, esquerda defende direitos e os menos favorecidos e direita defende os poderosos e interesses das elites dominantes do capital.
No Brasil, os movimentos de junho de 2013 encorajaram as pessoas que simpatizam com idéias da direita a estarem em mobilizações nas ruas, o MPL- Movimento pelo Passe Livre, iniciou-se em São Paulo, pelo passe livre, mostrou uma variedade na mudança do público dos movimentos sociais, anteriormente sempre caracterizados por pessoas mais velhas, ligadas a partidos políticos ou a movimentos de esquerda, o MPL era diferente, composto em grande parte por jovens de classe média, que foram desenvolvendo uma verdadeira rede social, um movimento em rede, que conseguiu mobilizar milhões de brasileiros pelas redes sociais, em diversas capitais, que ampliou a pauta do passe livre, para pautas já discutidas anteriormente, como a moralização da política e melhores políticas públicas, terminou se organizando e movendo as ruas a favor da cassação da presidente Dilma.
Por outro lado, a esquerda saiu em defesa da presidente Dilma, em defesa que ela terminasse seu mandato, em defesa da democracia, uma vez que a mesma foi eleita democraticamente e para eles deveria terminar seu mandato, esse movimento era contra as reformas da previdência e trabalhista e da flexibilização da legislação trabalhista.
Portanto os movimentos de junho de 2013 marcam essa polarização entre esquerda e direita nas ruas, no Brasil.
Entretanto, ao que parece o campo da ideologia passa por mutações, pois muitos políticos que se autodenominam esquerda, tem se aliado a empresas terceirizadas para precarizar relações de trabalho, atuado como emissários da retirada de direitos, aprovação da reforma da previdência como no caso da deputada Tábata Amaral, que votou a favor da reforma da previdência, assim como existem políticos de partidos denominados de direita que proporcionam direitos trabalhistas e sociais, por exemplo o ex-prefeito de Imperatriz, Maranhão, do PSDB, partido considerado de direita, foi o prefeito que mais criou vagas de emprego, mais realizou concursos públicos na cidade, reduziu a jornada e aumentou os salários dos servidores públicos e mais desenvolveu programas sociais de amparo às crianças e outros segmentos da população, portanto já não é possível unificar os ideais partidários em direita e esquerda, pois as condutas de um político é que expressam se uma população irá ou não avalizar suas ações, e não ideologias.
No Brasil, o presidente da república que teve ações mais assemelhadas com o que defendia a esquerda original dos jacobinos, e que realizou uma política de cunho keynesianista, foi o presidente Lula, que mais realizou concursos públicos e estruturou o Estado para prestar serviço público ao cidadão, principalmente para aqueles que não podem pagar por esses; Lula otimizou todos os indicadores sociais, econômicos, de saúde e educação e inúmeras políticas foram implantadas e ampliadas em seu governo, foi o que expressaram os Órgão de Pesquisa e Estatística do Brasil e do Mundo, como a Política Nacional de Amostras por Domicílios- PNAD, IPEA, DIEESE entre outros.
Desse modo, ao que parece esta polarização radical entre esquerda e direita já está muito mais no campo da ideologia, do que no campo das ações, das defesas de fato de direitos ou de não direitos, a polarização e o povo nas ruas representa muito mais uma crise da democracia, como afirmou o Pedro ribeiro, da UERJ, e mais precisamente o tipo de representatividade da democracia indireta,na qual os cidadãos não tem voz nos espaços legítimos de deliberações, portanto, tanto os que se consideram esquerda quanto os que se consideram direita vão às ruas para expressar essa voz abafada que não chega aos espaços de decisões.
Tanto a esquerda quanto a direita estão sob ataque uma da outra, mas na democracia, todos podem e devem se manifestar, caso contrário não seria democracia, a unanimidade através de um silenciamento forçado seria autoritarismo, todavia ambas as partes precisam analisar as formas de manifestações previstas na Constituição Federal, o respeito aos poderes da república e seus representantes, construir suas pautas dentro da ética política e da legalidade, pois os mecanismos democráticos estão aí para julgar e encaminhar na forma da lei aquilo que ofende e que ultrapassa a liberdade de expressão.