A Teoria da Criação da Humanidade é um dos temas mais disputados entre a Religião e a Ciência na atualidade.
O livro “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin, publicado em 1859 na Inglaterra, representa um marco no advento da ciência, nesta obra ele defendeu que organismos vivos evoluem através de um processo que chamou de “seleção natural”, essa teoria ficou conhecida como evolucionismo.
O evolucionismo afirma que a vida na Terra surgiu de um ancestral comum universal há cerca de 3,8 bilhões de anos. É uma “teoria” no sentido científico da palavra, o que significa que é apoiada por evidências e aceita como fato pela Ciência.
Até então a explicação do surgimento das espécies era explicada por meio da religião, no caso dos cristãos, o livro de gênesis relata que Deus soprou nas narinas de Adão, um homem de barro, o qual passou a ter vida, essa teoria é conhecida como teoria da criação.
Como vê-se a teoria de Darwin, da ciência desafiou frontalmente a teoria da criação, da religião.
Essa é apenas uma das muitas situações em que Ciência e Religião confrontam-se em um duelo de disputa por representação de uma verdade universal e até disputa de poder(poder de convencimento.
Conforme a obra Filosofia Política, do professor Antonio Charles Santiago Almeida, doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná, professor de filosofia e sociologia da Universidade Estadual do Paraná, professor de filosofia política do curso de ciência política do Centro Universitário Internacional, no século IV depois de Cristo o imperador romano Constantino teve uma aproximação com Santo Agostinho, um Cristão convertido, que a partir dali conquistou espaço na política do Império para a religião Cristã, que antes era perseguida, e então passa a ser a religião oficial do Império, de odiada, a religião católica passa a ser pública e obrigatória.
Nesse período, a ciência estava subordinada à religião, que o diga Galileu, que, ao constatar que a terra não era plana, mas sim redonda, por pouco não foi condenado à morte, foi necessário afirmar “que estava brincando” e voltar atrás.
Todavia, com o advento do Estado liberal, novas formas de exercer a religião se insurgiram no turbilhão de inovações que a nova era iluminista apresentava e foi Martin Lutero que resolveu quebrar o então monopólio da igreja católica, então o Estado ganha mais autonomia com relação á religião, e a religião deixa de ser pública(obrigatória para todos) e passa a ser privada, cada um escolheria se iria escolher uma religião ou não, o protestantismo apresenta outras alternativas.
As grandes navegações, o início da expansão mundial do capital, da colonização de novas terras descobertas e os avanços da divisão internacional do trabalho, com a implantação da escravidão nas colônias também interferiram sobre a religião, os europeus tiveram contato com novas religiões, a exemplo das religiões indígenas e dos africanos, que foram proibidas e criminalizadas no ocidente, ao chegar nas colônias os escravos tinham que trocar de nome, eram proibidos de falar sua língua nativa e de exercer sua religião.
Já no século XVIII, a ciência, as artes, os novos ideias iluministas, novas idéias, a revolução francesa e as demais transformações proporcionaram uma nova ordem social, na qual a ciência prevalecia sobre a religião, o mundo passou por uma série de transformações com a mudança no sistema político, econômico e social, o século das luzes foi sucedido por ampla produção científica, como o livro de Darwin, da evolução das espécies, Pasteur nesse mesmo século descobriu os micróbios, que era necessário ferver os materiais médicos, a vacina da raiva, o método da pasteurização e tantos cientistas que por meio de métodos que podem ser testados e comprovados, convenceram a supremacia ali da ciência sobre a religião para explicar esses assuntos estudados.
Mas afinal mediante tanta comprovação como explicar que a religião sobreviveu, mesmo não sendo obrigatória e sendo uma escolha pessoal? Se a ciência pode comprovar fatos, por que então a religião cresce tanto, surgem novas igrejas, a igreja católica continua como uma religião majoritária(com maior número de adeptos), não seria simples deixar a religião e aderir às explicações da ciência, já que são comprovadas?
A teologia enquanto um estudo sistemático da religião tem avançado em muitos assuntos essenciais nessa co-relação entre o homem, a religião, a sociedade e outras questões desse tempo, embora esse não seja o assunto central aqui, cabe ressaltar que a ciência da religião tem buscado analisar os aspectos da religião e fortalecer esse debate, com muitas pesquisas, estudos e avnços na área.
Voltemos à explicação inicial da teoria da criação para nos apoiarmos em alguns argumentos, entendo que se perguntarmos se ficou comprovado e muito claro para todos que o homem realmente evoluiu de um ancestral comum há mais três bilhões de anos atrás e se as pessoas estão realmente convictas disso, um grande número de pessoas responderão que não.
Ainda, se perguntarmos exatamente o que acontece o ser humano após a morte e antes da vida, muitos também irão responder que não estão convencidos pela ciência sobre esses fatos.
Mesmo na política, muitos cientistas afirmam que Platão em sua obra “A república” afirma que a virtude de governar não é para todos, e que as mulheres não poderiam votar nem exercer cargos políticos, temos que entender o tempo em que Platão vivia, mas criticam arduamente a Bíblia em algumas referências às mulheres, e que merecem realmente críticas, mas não admitem que o tempo em que tais textos foram escritos devem ser considerados dentro de sua realidade, por isso não se aplicam agora, por exemplo, que as mulheres devem ser submetidas aos maridos.
Portanto, a religião não pode se apropriar das funções da ciência e vice-versa, é preciso compreender que elas são diferentes e precisam ser respeitadas em seus papéis e limites.
A ciência ainda não consegue dar respostas para certas angústias humanas, como por exemplo a cura do câncer, a cura da depressão, tantas aflições que atingem o ser humano continuam sem resposta, além de não convencer a muitos sobre a teoria da evolução, de onde viemos e pra onde vamos.
Questões assim, fazem a religião ter crescido tanto, ter sido tão amparada e procurada como resposta, são as aflições e os sofrimentos, as dores que não se acalmam na ciência, mas se confortam, se acolhem e se convencem na religião.
Desse modo, ciência e religião não podem excluir uma à outra, por que não há lei universal para isso, e cada ser humano vai lidar com sua fé, vai compreender o espaço da ciência e o espaço da religião na sua vida na medida em que se convence e reconhece o papel de cada uma, pois é essa a perspectiva da democracia, a liberdade de expressão e de fé, sem ciência não há vida e a ciência protege a vida enquanto um direito natural, constitucional, irrevogável e indisponível ao mesmo tempo que a religião protege a vida, quando responde aos conflitos, às angústias interiores do ser humano, os quais a ciência ainda não foi capaz de abarcar, por isso as duas são de suma relevância para a vida humana e devem ser respeitadas, cada uma dentro das suas competências, papéis, circunstâncias e perspectivas e cada ser humano sendo livre para escolher sua religião e para respeitar a do outro, de outro modo, não há como consolidar esse processo em construção da nossa jovem democracia.
Por: Ana Léa Coelho- Acadêmica de Ciência Política do Centro Universitário Internacional, Enfermeira do Trabalho, Pós-graduada em Educação e Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública, Saúde da Família e pós- graduada em gestão em saúde pela Universidade Federal do Maranhão.